Risco de Covid-19 sintomática é maior para quem já teve dengue, diz pesquisa

Pesquisadores não sabem precisar as causas do fenômeno

[Risco de Covid-19 sintomática é maior para quem já teve dengue, diz pesquisa ]

FOTO: Getty Images

Um estudo publicado pela revista Clinical Infectious Diseases nessa sexta-feira (7), aponta que as pessoas que já tiveram dengue no passado são duas vezes mais propensas a desenvolver sintomas da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, caso sejam infectadas. As conclusões descritas no artigo se baseiam na análise de amostras sanguíneas de 1.285 moradores da cidade de Mâncio Lima, no Acre. 

O levantamento foi coordenado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Urbano Ferreira, e contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo ( Fapesp ). "Nossos resultados evidenciam que as populações mais expostas à dengue, talvez por fatores sociodemográficos, são justamente as que correm mais risco de adoecer caso sejam infectadas pelo SARS-CoV-2. Este é um exemplo do que tem sido chamado de sindemia [interação sinérgica entre duas doenças de modo que uma agrava os efeitos da outra]: por um lado, a covid-19 tem atrapalhado os esforços de controle da dengue, por outro, esta arbovirose parece aumentar o risco para quem contrai o novo coronavírus", diz Ferreira à Agência Fapesp.

O professor tem realizado estudos no município de Mâncio Lima há sete anos com o objetivo de combater a malária. Em 2018, deu início a um projeto que prevê a realização de inquéritos domiciliares a cada seis meses, abrangendo 20% da população local. Durante as visitas, são aplicados questionários e coletadas amostras de sangue. 

No início de 2020, o projeto recebeu um aditivo da Fapesp para que parte dos esforços de pesquisa fosse direcionada ao monitoramento e à caracterização do SARS-CoV-2 na região. Foram incluídas nas análises amostras de sangue coletadas em dois momentos: novembro de 2019 e novembro de 2020. O material foi submetido a testes capazes de detectar anticorpos contra os quatro sorotipos da dengue e também contra o SARS-CoV-2.

Os resultados mostraram que 37% da população avaliada já havia contraído dengue até novembro de 2019 e 35% haviam sido infectados pelo novo coronavírus até novembro de 2020. Também foram analisadas as informações clínicas (sintomas e desfecho) dos voluntários diagnosticados com a covid-19. "Por meio de análises estatísticas, concluímos que a infecção prévia pelo vírus da dengue não altera o risco de um indivíduo ser contaminado pelo SARS-CoV-2. Por outro lado, ficou claro que quem teve dengue no passado apresentou mais chance de ter sintomas uma vez infectado pelo novo coronavírus", explica Vanessa Nicolete, pós-doutoranda no ICB-USP e primeira autora do artigo.

Os pesquisadores não sabem precisar as causas do fenômeno descrito no artigo. É possível que exista uma base biológica,  os anticorpos contra o vírus da dengue estariam favorecendo de algum modo o agravamento da covid-19,  ou seja simplesmente uma questão sociodemográfica.
 


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