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Águas de Oxalá: um pedido de desculpas, proteção e paz

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Águas de Oxalá: um pedido de desculpas, proteção e paz

Águas de Oxalá: um pedido de desculpas, proteção e paz

Sempre na última semana de setembro acontece a homenagem aos Ancestrais do Ilê Axé Opô Afonjá. Neste ano de 2023, foi lindo de se ver, pois há muito tempo os Eguns não apareciam para fazer festa. Por conseguinte, na madrugada de quinta pra sexta acontece um ritual interno e bem particular de cada casa: são as “Águas de Oxalá”.  Os filhos de santo que não moram no Terreiro, após suas jornadas de trabalho, chegam à roça e se preparam pro ritual. De banho tomado e, vestidos de brancos, os filhos vão pra casa de Xangô para que a mãe de santo possa amarrar em suas cabeças o ojá – tecido que tem como finalidade cobrir o Ori – Cabeça.

Às 03 horas da madrugada, todos se reúnem na casa de Oxalá. Somente o adjá – sino tocado pela Iyalorixá quebra o silêncio do alvorecer. Um cortejo é puxado pela mãe de santo e as egbomes mais antigas até o caramanchão, onde Oxalá ficará hospedado por alguns dias. Uma grande fila se forma até a fonte de Oxun, local em que – de forma hierárquica – os filhos enchem as quartinhas de água para levar até o Pai. Este processo é feito por três voltas e é encerrado quando a última pessoa da fila deixa a quartinha com água, flores e folhagens em volta de Oxalá. Todo este ritual se fundamenta em um itan, assim explicado: Oxalá, pai de todos os Orixás, resolveu visitar seu filho, Xangô. Naquela época, antes de se fazer qualquer coisa, o Merindinlogun – oráculo era consultado. Feita a consulta, lhe foi orientado que não saísse naquele dia. Mas, convencido de que mal nenhum lhe aconteceria, Oxalá saiu. No caminho para o Aafin – Palácio, Oxalá viu um cavalo amarrado numa árvore à beira do rio. Achando que estaria com sede, soltouo cavalo e o levou até a margem para beber água. Neste ínterim, os soldados do Rei chegaram e viram Oxalá com o animal, dando-lhe voz de prisão por ter roubado o cavalo do Rei. Desta forma, Oxalá foi conduzido até o Aafin.

Posto na prisão, Oxalá passou um longo período encarcerado. Sem tomar banho e mal alimentado,era tratado como animal, pois era assim que os ladrões eram mantidos. Como de costume, o Alaafin– Senhor do Palácio (Rei), ia visitar os prisioneiros e, ao chegar à carceragem, se deparou com seu pai, magro e fétido. Xangô, então, ordenou que o soltassem imediatamente e como reparação dos maus tratos, determinou que todo o reino carregasse água para banhá-lo. Oxalá se sentou numa grande bacia e cada pessoa do reino ia jogando água do rio em sua cabeça, pedindo desculpas pelos maus tratos.

Como todo o processo da religiosidade do Candomblé baseia-se em itans, as Águas de Oxalá recriam a perspectiva do acima citado e, ilustra o pedido de perdão, sobretudo, o pedido de paz e proteção para a comunidade. As reflexões sobre as próprias ações como indivíduo são estimuladas. Neste período, aqui no Opô Afonjá, após as “Águas”, passamos 16 dias vestindo branco e, restringidos em ingerir comidas com dendê – nada daquele acarajé do fim de semana! Um enorme sacrifício pra quem é amante deste tipo de comida, tendo em vista que no mês de setembro se comemora São Cosme e São Damião e a Cidade é puro dendê com os famosos Carurus de promessa.

 Segundo domingo quando Oxalá volta pra casa

Durante três domingos consecutivos após as Águas de Oxalá, acontecem os festejos em sua homenagem. No primeiro domingo, todos os Orixás aparecem em regozijo das “Águas”. No segundo domingo, Oxalá retorna pra casa e é recebido como um Rei, momento em que seus filhos recitam o oriki: “o grande Rei acaba de chegar. Saudações por ocasião da viagem que acaba de fazer. Os escravos vieram servir seu mestre...”. Pombos brancos são soltos com o objetivo de restabelecer a paz. Oxalá, então, senta-se novamente no trono. Por fim, o terceiro domingo consecutivo celebra a Festa do Pilão, momento em que o inhame cozido e pilado – uma das iguarias de Oxalá – é servido. Toda essa simbologia pode ser vista nas imagens iconográficas do Mestre Carybé, Obá Onaxokun, in memoriam.

3° domingo que é a festa do Pilão Terceiro domingo que é a festa do Pilão

Portanto, as “Águas de Oxalá” nada mais é que este pedido de proteção e misericórdia pelos nossos feitos, pois – assim como Oxalá desobedeceu ao que lhe foi orientado e sofreu as consequências, devemos ter a capacidade de obedecer, pedir perdão e saber perdoar. Seguindo todas essas orientações, o objetivo é que tenhamos um restante de ano com muita saúde para que no ano vindouro estejamos firmes e fortes para dar continuidade a tudo novamente.

Êpa Babá!

 

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