A reclamação do presidente Jair Bolsonaro quanto à volta dos radares móveis em rodovias federais é pertinente: neste instante, a indústria de multas vence a guerra contra a população, num sistema de penalização de trânsito um tanto abusiva, cuja utilização é meramente arrecadatória dos aparelhos.
Bandeira na campanha eleitoral de Bolsonaro, o fim do uso de radares de fiscalização de velocidade móveis nas Brs pelo país foi suspeito em agosto deste ano, em ordem publicada inclusive no Diário Oficial, assinada pelo Ministério da Justiça (responsável pela Polícia Rodoviária Federal). Ontem, o presidente demonstrou insatisfação – e com razão – quanto à decisão da Justiça (em primeira instância, é preciso ressaltar) para que a PF volte a fiscalizar as rodovias com este aparato.
O jogo, no entanto, deve virar e ser mais uma decisão nada emparelhada do presidente, que viabiliza a volta dos radares, como exige a Justiça, mas em caráter educativo. Ou seja, o infrator receberá uma foto e um alerta quanto à alta velocidade praticada em determinado lugar, e sem gerar prejuízo financeiro (leia-se altíssimas multas).
É prematuro apontar a funcionalidade desta ideia, nem mesmo expedida, apesar de ser uma alternativa a ser estudada, talvez com um limite de alertas e, se extrapolado o número de vezes em que o motorista for fotografado em alta velocidade nas estradas, aí então será multado e obrigado a pagar por isso.
Exageros devem ser punidos, mas é justo punir com abuso de poder, a partir de normativas duvidosas de trânsito? Alçadas a medidas educativas pelos governos, a verdade é que a indústria de multas está mais próxima da extorsão, que fere profundamente a dignidade do cidadão lesado, inclusive com riscos de traumas psicológicos por ser praticamente tachado de criminoso (por descumprir a lei) e ter que pagar quantias as quais não têm nem mesmo para o mês inteiro para sustentar a família.