Renda para o consumo dos mais pobres sofre pressão da inflação e vai cair 17,7% em 2021

Perspectivas apontam para cenário de dificuldade entre os membros das classes D e E

[Renda para o consumo dos mais pobres sofre pressão da inflação e vai cair 17,7% em 2021]

FOTO: Reprodução/SINDECONPI

Com os preços nas alturas de itens essenciais, como alimentos, gás de cozinha e energia elétrica, a inflação que disparou em 2021 pesa mais sobre os mais pobres e tira recursos do consumo. É o que aponta o estudo da Tendências Consultoria estima que a renda disponível encolheu entre os que ganham menos. Nas classes D e E, a queda este ano será de 17,7%, contra uma alta de 3% na classe A. 

O levantamento da Tendências considera gastos essenciais as despesas com habitação, transporte, saúde e cuidados pessoais, comunicação, educação e alimentação. "O impacto negativo no consumo é direto, já que a renda dos mais pobres vai toda para o consumo. Houve enxugamento das transferências sociais, e a retomada do mercado de trabalho está muito gradual.", explica Lucas Assis, economista da consultoria.

Nas classes D e E, estão concentradas 54,7% das famílias, cuja renda é de até R$ 2.700. Muitos itens básicos dispararam recentemente. No acumulado em 12 meses, há casos de aumentos dez vezes maiores do que a inflação oficial, que foi de 8,06% no período. O preço do óleo de soja subiu mais de 86%. Arroz, feijão-preto e açúcar cristal aumentaram 51,83%, 31,26% e 23,86%, respectivamente.

Na avaliação do diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), José Ronaldo Souza Júnior, a tendência é que a diferença entre a inflação de mais pobres e mais ricos se atenue nos próximos meses.

A projeção do instituto mostra que a inflação entre os que têm renda familiar abaixo de R$ 1.650 foi de 9% entre março de 2020 e maio deste ano. "As tarifas de energia afetam mais os pobres, mas a gasolina faz aumentar a inflação dos mais ricos, que também deve ser influenciada pela alta dos serviços nos próximos meses.", diz Souza Júnior.

Luiz Roberto Cunha, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), diz que dificilmente a inflação deste ano ficará menor do que 6%. Ele prevê que as commodities continuem em alta por causa da recuperação de economias como a chinesa e a americana. 

Além disso, há a questão da crise hídrica, que deve elevar o custo com a conta de luz. "Há uma possibilidade de, no segundo semestre, a inflação não subir tanto como no mesmo período de 2020, quando havia incertezas políticas, econômicas e relacionadas à própria pandemia.", afirma. 


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