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Ilê Axé Iborô Odé – 13 anos de resistência e fé

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Ilê Axé Iborô Odé – 13 anos de resistência e fé

Ilê Axé Iborô Odé – 13 anos de resistência e fé

Hoje falarei um pouco sobre a minha caminhada fora do Ilê Axé Opô Afonjá e da importância do Opôcomo minha referência. Mesmo distante dos portões da roça – o Opô (pilar/sustentáculo) continua sendo o farol de orientação dos seus descendentes, onde o legado de Mãe Anninha segue imortalizado. Mais pra frente falarei sobre a terminologia Opô – tema bastante polêmico: aguardem!  

Filho de Antonina Meireles Dantas e Manoel Bispo dos Santos (in memoriam), Antonio Dimas Bispo dos Santos, conhecido por pai Dimas de Oxossi, é um jovem Babalorixá que, mesmo com a pouca idade física, carrega a responsabilidade do alto sacerdócio dentro de um Terreiro de Candomblé.

Sua vida espiritual começa quando seu irmão mais velho precisou ser iniciado para Omolu. Oriundo de uma família católica bem rigorosa, a notícia não foi bem aceita, pois o preconceito contra a religião de matriz africana prossegue vivo e atroz. Após o precoce falecimento de seu irmão, todo o encargo espiritual recai sobre Dimas. Aos 07 anos de idade acontece a sua primeira manifestação Ancestral. Seus pais, sem compreenderem o que acontecia, foram aconselhados por uma vizinha que era de Candomblé, a procurem um Terreiro. Franzino e sempre doente, dona Antonina - mulher de muita fé - e seu Manoel levaram o pequeno Dimas na casa de dona Conceição, uma senhora da nação Jejê lá de Santo Antônio de Jesus, cidade natal de seu pai, no Recôncavo baiano. Por lá, Dimas passou por alguns preceitos, onde as energias que lhes acompanhavam se apresentaram como Caboclo Êrue Boiadeiro dando, assim, encaminhamento em sua vida. Dona Conceição enfatizou dizendo que a partir daquele momento o seu caminho seria de pai de santo, sobretudo, de cuidar das pessoas.

Dimas, nascido e criado dentro do bairro de São Gonçalo do Retiro, conviveu dentro do Ilê Axé Opô Afonjá; foi integrante do AJA – Associação Juventude Afonjá e do grupo de Capoeira Angola do Mestre Barba Branca (in memoriam). Lá, pôde conviver de perto com os saberes da casa, dando continuidade à sua vida espiritual no Ilê Axé OpôOxogunladê, localizado no Estado de Sergipe, cuja liderança é de Pai Reginaldo Daniel Flores – o tio Régis de Ogun, filho de santo de Mãe Stella de Oxossi e descendente direto da família Daniel de Paula da Ilha de Itaparica, onde segue aquecendo a tradição do Opô Afonjá e de sua família consanguínea.

No Oxogunladê, tio Régis ratificou o que dona Conceição havia dito quando Dimas ainda tinha 07 anos de idade. No ano de 1994, Boiadeiro começou a atender pessoas que buscavam ajuda espiritual. Sua formação sacerdotal acontece a partir do convívio com seu Babalorixá, onde todas as etapas foram seguidas, exatamente como manda a tradição: “viver o Candomblé”. Dimas também teve grandes mulheres de Axé ao seu lado: Obá Terê (in memoriam), filha de santo da memorável Mãe Senhora de Oxun; Cléo Martins – Agbeni Xangô e Maria Aparecida – Cida de Nanã, otun Dagan, ambas egbomes do Opô Afonjá, onde fortificaram o seu aprendizado tornando-o o Babalorixá que hoje é.

E onde eu entro nesta caminhada? Vamos lá: ainda no fundo da casa de sua mãe, dona Antonina, em São Gonçalo do Retiro, Dimas cultuava o Caboclo Boiadeiro. Por termos estudado juntos e por saber da minha formação dentro do Opô Afonjá, me convidou para uma grande oferenda a Boiadeiro. Desde então, sigo ao seu lado: “de onde Ogun tira o pé, Oxossi coloca, e vice-versa.” Provérbio que faz alusão à irmandade inseparável de Ogun e Oxossi, e, hoje, sou o Axogun do Iborô Odé.

O primeiro bori que Dimas fez, teve o meu auxílio. Sua seriedade com a religião foi aplaudida pelo mais alto escalão do Opô Afonjá, como no exemplo de, numa consulta aos búzios, quando identificou o Orixá de sua prima Ana Amélia, pediu que ela fosse ao Opô Afonjá se consultar com Mãe Stella - postura que os antigos costumavam aplicar. O reconhecimento do Orixá foi autenticado e, ao saber sua procedência, Mãe Stella disse: “confie em seu pai de santo. Ele sabe o que está falando e fazendo!” Mãe Stella gostava muito de Dimas.

Ainda no São Gonçalo do Retiro, num local de pouca estrutura física, mas de muita energia, onde tudo erafeito com muita fé e dedicação objetivando melhorias, Dimas firmou o Axé de Oxossi abrindo as portas do seu barracão em 10 de setembro de 2010. Em 2013, colocou seu primeiro “barco” de Iaôs, sempre com a ajuda das senhoras supracitadas, de seu pai de santo, tio Régis e conseqüentemente do Axogun. Durante 05 anos de Terreiro firmado em São Gonçalo, Dimas ajudou muita gente, fazendo sempre o bem sem olhar a quem! E como todo Terreiro de Candomblé tem seus altos e baixos, no Iborô Odé não foi/é diferente. A roça teve perdas e ganhos; entradas e saídas; amores e intrigas, mas - com toda certeza, quem aqui pisou saiu melhor do que entrou. 

Aos trezes dias de outubro de 2018, Oxossi atirou sua flecha direcionando seu Axé para uma região onde a natureza se faz presente em sua essência. E lá se foi o Iborô Odé para Simões Filho, na localidade de Palmares, região metropolitana de Salvador. Com chão de barro; muito verde; pássaros e outros bichos que completam o cenário, Oxossi hasteia a sua bandeira. E hoje, 10 de setembro de 2023, o Ilê Axé Iborô Odé está em festa, e eu sigo nesta missão fora dos portões do Opô Afonjá ao lado deste irmão de infância que se tornou um exímio sacerdote. Nesses treze anos de Iborô Odé, tenho muitas histórias de felicidade por contar.

 

Salve Oxossi – Okê Arô!!!

Salve o Iborô Odé – Casa de adoração ao Caçador!

 

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A festa deste ano, 10 de setembro, domingo, começa às 15h.

Sejam todos bem vindos.

Local: Rua da Jurema, n° 04 – Palmares, BA 093 - Simões Filho.

Ilê Axé Iborô Odé.

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