Adriano Azevedo

Nivaldo, o Ninja: aquele que regressou pra casa
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Pior que a morte do corpo físico, é a morte das memórias. Sendo assim, sigo nesse resgate das lembranças que tenho daqueles que partiram para viverem lá no Orun. Sobre o meu Inesquecível de hoje, escreveria um livro dos momentos que passei ao seu lado. São muitas as memórias e, uma enorme saudade. Nivaldo Silva era seu nome. Morador da Cidade Baixa – Ribeira, Nivaldo era policial civil inativo com diagnóstico associado a transtornos psíquicos. Ele sã já era azoado, imaginem! [risos]. Mas nunca foi um cara agressivo, até mesmo nesses momentos de alteração doestado mental. Muito pelo contrário. Ele ria muito e falava pelos cotovelos. O que me impressionava, eraque isso acontecia sempre entre o mês de setembro e outubro – ciclo das festas de Oxalá.

Quando ele percebia que ia surtar, vinha pra roça e por cá ficava.  A chave do carro, os documentos e as armas ele me entregava pra guardar. Parece que ele sentia quando ia acontecer. Era impressionante! Eleme chamava no canto e dizia assim: “Ninja. Guarde minhas coisas que agora vou me encontrar com Oxalá. Você me entendeu, né? Já to ficando azoado!” E ria. Ninja era o apelido que ele havia me dado. Então, eu balançava a cabeça em sinal de positivo, e ele completava sorrindo: “Cuide de seu maluco direito, viu?” E eu dizia: “Um Ninja sempre cuida do outro!” Ele apertava minha mão e me dava um forte abraço. Só quem o conhecia, sabia que ele estava naquele estado.

Seu orukó – nome de Santo era Ala Bówalê – O Senhor que regressou pra casa. Nivaldo era filho de Oxalá e Ogan de Iansã. Foi ele quem idealizou dar o boi vivo na festa de Oxossi. Durante muitos anos era ele quem ofertava o boi, e neste período vivemos muitas histórias juntos! Algumas dessas podem ser lida aqui no Farol em O boi de Oxossi - Adriano Azevedo | Farol da Bahia e, as outras, como disse, escreveria um livro. Por muitas vezes viajávamos pelo interior da Bahia, principalmente a procura do boi para deixá-lo engordando até o famoso “dia do boi de Oxossi”. Vivemos muitas aventuras. Ah! Não posso me esquecer dos romances [risos]. Aquele Ninja não era mole. Era um verdadeiro Ninja, onde,no “arriar das malas” – frase dita por ele, sempre tinha uma pessoa esperando. Parecia caminhoneiro [risos].

Infelizmente o único registro que tenho dele, foi em um desses dias do boi. A fotografia foi tirada por Lucas de Omolu em momento de descontração e muita gozação, onde estou segurando nos testículos do boi. É brincadeira?! O clique errado na hora errada [risos]. Pois bem... Nivaldo se transformou em Ancestral muito cedo, sumindo através da cortina de fumaça que só os bons Ninjas utilizam para desorientar o seu oponente. No entanto, através da mesma cortina de fumaça que ele sumiu, ele também aparece nas minhas saudosas memórias, oque o torna vivo em cada caso que resolvo contar quando ele se faz “presente”. Ah meu Deus! Foram tantas risadas. Quem sabe um dia, eu escrevo um romance com todos estes causos que este Nivaldo aprontava [risos]. Putz... Que saudade desse cara! 

Salve o Ninja que regressou pra casa.  


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