Adriano Azevedo

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As memórias de hoje trazem a pessoa mais doce que conheci durante minha existência aqui no Opô Afonjá: Haidê Ribeiro Sanches. A nossa inesquecível era filha de Epifânia Teixeira Sanches e de Augusto Ribeiro Sanches; nascida em 02 de abril de 1927, na Rua Monte Belém de Baixo, n° 05ª, no Engenho Velho de Brotas, em Salvador/Bahia. Tia Haidê aprendeu o ofício de costureira e bordadeira muito cedo. Especializou-se em richelieu – trabalhosa técnica de bordados muito utilizada nas roupas que vestem os nossos Orixás. Tia Haidê fazia tudo com muito esmero.

Em 1943 – então com 16 anos de idade – tia Haidê se iniciou para Oxun pelas mãos de Pai Vidal, que era filho de santo de Mãe Senhora. Com a morte de Pai Vidal, e passado o período do luto, Mãe Senhora reuniu os filhos dele para saber quem desejaria dar continuidade às obrigações de 03 e 07 com ela. Haidê, Celina e Namãe, todas três de Oxun, seguiram com Senhora e completaram suas obrigações no Opô Afonjá.

Mãe Senhora tinha muito carinho e estima por tia Haidê, ao ponto de levá-la pra todo local que ia – assim como fazia com Mãe Stella. Quantas viagens para Itaparica fizeram juntas?! Tia Haidê ocupava um dos mais importantes títulos do palácio real: ela era a Kolabá, sucedendo Mãe Stella, quando fora escolhida pra ser Iyalorixá. Haidê era responsável pelo “Labá” de Xangô, bolsa que guarda os mistérios da magia de Xangô. Serviu ao Axé por toda a vida, para a nossa alegria! O mesmo nome pelo qual era chamada pelos Orixás: Oṣun Fúnmiláyọ̀ – Oxun, dê-me alegria – exatamente como tia Haidê deixava tudo com sua presença.

Tive bons momentos ao seu lado. Por ser Obá de Xangô, ela me chamava de pai. Era tão carinhosacomigo que eu ficava todo dengoso [risos]. Tia Haidêera quem cuidava das faixas e gorros dos Obás. Todo 11 de julho, dia da festa de Iyámassê, quando chegávamos na casa de Xangô, já estava tudo arrumadinho em cima do baú. Era ela quem nos arrumava. Colocava a faixa; ajeitava o gorro; apertava a gravata e, com aqueles mais chegados – que era o meu caso, ainda dava um cheiro no cangote pra saber se estávamos cheirosos. Daí,então, Mãe Stella saia na frente com a representação de Xangô, em seguida vinha a Kolabá, carregando a bolsa do Rei e, por fim, os Obás – carregando a charola com Iyámassê. Bons tempos!

Este artigo só foi possível a partir da contribuição valorosa de Egbome Neuza de Xangô – Obá Ladê,“filha-pequena” de tia Haidê. Acredito que a filha preferida [risos]. Em conversa com Neuza, ela me disse: “Tenho recordações muitas boas, todas de amor; carinho; zelo e cuidados com a minha mãe Haidê. Muita cumplicidade; confidências e parcerias,ao ponto de vê-la falecer em meus braços, no dia 26/05/2016, na residência dela, às 12h59min.”

Tia Haidê foi e sempre será um ser de luz.

Sun rẹ ò!


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