Adriano Azevedo

América e Aída: Educadoras por excelência
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A proposta da série “Inesquecíveis” é rememorar pessoas que passaram pelo Opô Afonjá, mas que, na correria da vida e por descuido, quando essas pessoas se transformam para a Ancestralidade, as lembranças começam a desaparecer e terminam caindo no esquecimento. Ciente de que, no Candomblé, cultuamos a Ancestralidade e que nossos antepassados jamais devem ser esquecidos – a proposição desta série é trazer de volta essas memórias. Embora nem todos os “meus” Inesquecíveis tenham muitas linhas de suas estórias, seguirei rememorando e contando o que pude viver ao seu lado, mesmo que de forma breve, pois – como disse, o descuido fez com que essas reminiscências se perdessem no tempo. Tento agora, ainda que em poucas linhas, trazer eles de volta à minha rememoração e fazer com que sejam lembrados e homenageados por mim.

Outro dia, num papo descontraído com uma educadora, filha de Oxun – Vanda Machado, ela disse o seguinte: “(...) meus mortos nunca morrem!”. Achei forte sua fala. Sinto da mesma maneira, particularmente, sempre trago na memória meus mortos, sobretudo nos pequenos gestos – nem sempre óbvios para outras pessoas. Lembrar de passagens que tive ao lado deles os tornam vivos – assim acredito. Estes pequenos gestos ilustram a frase da Professora-Egbome Vanda. Outra pessoa que, vira e mexe, lembra com carinho daqueles que se foram é Egbome Tutuca – já falei um pouco sobre este verdadeiro Patrimônio do Opô Afonjá, que é Tutuca: vida longa Toki! Veja aqui [Uma brincadeira séria - Artigos | Farol da Bahia]. Honrar nossos mortos tem que ser uma prática diária. Fico muito chateado quando um morto é citado e as pessoas estalam os dedos sobre a cabeça, fazendo alusão de que o morto não faz mais parte deste mundo – como se aquele espírito fosse fazer mal. Ora!? Não esqueçam que os Orixás são ancestrais divinizados!

Pois bem, hoje irei falar de duas senhoras, das quais fui aluno num passado não muito distante: América Áurea Muniz e Aída Margarida Muniz, filhas de Tibúrcio Muniz, Ogan de Ogun e Secretário da primeira formação da sociedade civil do Opô Afonjá – a Sociedade Beneficente Cruz Santa do Ilê Axé Opô Afonjá, cujo Presidente de honra era Martiniano Eliseu do Bonfim e, na diretoria, tínhamos Archelau Pompilho de Abreu - Presidente; Miguel Archanjo Barradas de Sant’Anna - Vice-Presidente e Jacinto Souza - Tesoureiro. As duas irmãs viveram uma vida inteira na Ladeira do Pepino, no bairro de Brotas com mais quatro irmãos: Abelardo; Lourdes; Maria do Carmo e Noêmia. Anos mais tarde, as duas se mudaram para o Opô Afonjá, onde permaneceram até o fim.

Iniciadas pelas mãos de Maria Bibiana do Espírito Santo – Mãe Senhora, tia América “assentou o santo” – procedimento iniciático onde a pessoa não se manifesta de Orixá. Tia América passou a ser chamada deIji Lará. Já tia Aída, “fez o santo”, chamando-se de Oyá Tomilá.

Além de ambas serem professoras, tia Aída também era enfermeira aposentada. Elas eram de uma educação excepcional. Até pra chamar atenção dos mais novos, elas tinham classe. Nunca as vi altearem a voz com ninguém. Em conversa com Rita de Xangô, filha de tia Aída, ela citou que lembrava com carinho dos momentos que ajudava sua mãe a coser a bandeira de Oxalá e, com sua tia, lembrou dos momentos quando limpavam a casa de Omolu. Tempos áureos!

Ainda que este artigo tenha tido poucas palavras, tenho boas lembranças de tia América e de tia Aída. Acredito também que esta pequena lembrança as torna vivas em sua essência. Portanto, trago com honra neste singelo artigo a importância que elas tiveram em minha formação e só agradeço!

Salve tia América!
Salve tia Aída!
 


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