Confira a crônica do Erick Tedesco deste domingo

[Atemporal e eterno]

FOTO: Reprodução

Certas produções cinematográficas são poderosas ao ponto da ideia transmitida por imagens e diálogos martelarem por dias na mente. Passam os dias e alguma cena vem à tona como convite à reflexão. E tem aquelas que persistem na memória pela vida inteira, que, aliás, é por certo o que deseja todo cineasta ao entregar uma obra ao público: a atemporalidade e perpetuação de sua arte. 

´Nós que aqui estamos por vós esperamos’, documentário dirigido pelo brasileiro Marcelo Masagão e lançado em 1999, completa 20 anos e sua profundidade e autenticidade são, mesmo, para qualquer geração. Assisti cerca de três anos após o lançamento, e o tenho como a faísca de ignição à minha devoção incondicional ao estudo da História, que até hoje caminha lado a lado ao ofício jornalístico. 

O documentário trabalha com elementos, fatos e histórias que como alicerce, construíram o que a humanidade conhece e viveu no século 20. Assim como é possível analisar o contexto histórico destes anos por meio de várias oculares, o diretor optou por trabalhar com a perspectiva da memória e do tempo. 

O pano de fundo para a narrativa do documentário são os acontecimentos tidos como marcantes durante o século retrasado e passado, que foram relevantes para a história do homem em torno de suas conquistas, anseios, frustrações, manias etc.
 
Frases de efeito e citações de homens que marcaram época denotam no documentário a preocupação de Masagão em se atrelar à tentativa de evidenciar mudanças, e como subitamente conceitos e padrões de outrora se tornam velhos e sem importância. Destaca-se uma época dinâmica, a urgência das coisas serem práticas, tudo em prol da tecnologia então florescendo e se mostrando quão progressista poderia ser para um bem maior.
 
As imagens mostram uma ciência decifrando o mundo e os desejos humanos (a psicologia de Freud que permeia todo o documentário), num princípio de século em que apostava-se muito em máquinas e invenções. Masagão constrói uma inteligente crítica quanto a tantos sonhos falidos de milhões de seres humanos perante guerras e falsas promessas nelas carregadas. Afinal, eles lutavam, lutaram, sofreram e morreram... por um ideal que não era o deles e nunca seria, algo que nem mesmo o capitalismo e nem o socialismo poderiam lhes oferecer.
 
A narrativa contada a partir de agentes anônimos de movimentos do início século 20, como pessoas que morreram em batalhas da 1ª Guerra Mundial, deixou claro que a turbulência na história os afetaram de forma estrondosa e conclui que a tecnologia recriou o homem e suas culturas, até mesmo o matou. 

E como castigar um homem que inventou uma substância química, capaz de desligar o homem deste mundo, e fazê-lo desfrutar o prazer bem longe, se esta seria a única maneira de muitos não mais sofrerem algum tipo de repressão ou mesmo fome e injustiças sociais? Pautado nesta crítica, Masagão não se esqueceu de questionar onde estaria Deus ao meio de um mundo confuso, onde a morte é o preço pela jornada da vida. 


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