O envolvimento da ex-deputada Manuela D’Avila (PCdoB) - ex-candidata à vice-presidência da República nas Eleições de 2018 – no caso do hackeamento dos celulares de autoridades brasileiras, que veio à tona nesta sexta-feira (26) em depoimento de um dos suspeitos presos pela Polícia Federal, ao mesmo tempo que começa a ligar os pontos, também mostra a obscuridade deste triste episódio na polícia nacional.
Quase dois meses depois da primeira matéria desferida pelo The Intercept Brasil sobre supostas conversas do então juiz Sergio Moro e o procurador da Lava-Jato Deltan Dallagnol, hoje é fato concreto que crimes (atividades hackers) e relações suspeitas entre agentes do alto escalão da política brasileira, de oposição, estão envolvidos.
O nome de Manuela escancarado publicamente no depoimento do suposto hacker Walter Delgatti Neto, o ‘Vermelho’, preso na Operação Spoofing, a fez, inclusive, rapidamente emitir nota à imprensa para tentar esclarecer os fatos e, em entrelinhas quase que como um espaço para letras garrafais, deixar claro que, sim, sabia do que se tratava os vazamentos do The Intercerpt desde o começo da confusão.
O que pesa contra Manuela, por certo, é ter tido conhecimento de crimes (o hackeamento de celulares de autoridades) e não ter denunciado a polícia. É um tipo de investigação que cabe muito mais à Polícia Federal do que ao jornalismo, principalmente quase se trata de jornalismo quase – ou seria completamente? – partidário. Pela dinâmica denunciada pelo hacker, ontem, não é exagero dizer que Manuela contribuiu no esquema, independente do envolvimento de dinheiro e de conhecer ou desconhecer o plano e os criminosos.
A polarização na política nacional que foi levada à exaustão na corrida eleitoral do ano passado, e que respinga com acidez até agora, é um problema enorme à prosperidade da nação. Se o depoimento de Delgatti for comprovado, se saberá que o completo mal estar e constrangimento de diversas pessoas expostas pelos supostos vazamentos poderiam ter sido evitados e apenas apurados dentro do sigilo policial. Mas os danos já estão feitos e Manuela terá de responder por eles.
