Adriano Azevedo

Iansã é o suficiente: tia Lourdes de Oyá
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A minha Inesquecível de hoje é Maria de Lourdes Santos, filha de Maria das Graças e Manoel Alcebíades. Tia Lourdes nasceu em 21 de outubro de 1938 na Cidade de Muritiba – situada noRecôncavo baiano. Iniciou-se no Candomblé pelas mãos de Maria Bibiana do Espírito Santo – Mãe Senhora, passando a ser chamada pelos Orixás de Oyá Tomi – Oyá é suficiente pra mim. 

Dona de casa e mãe de quatro filhos, tia Lourdes era pau pra toda obra. Não tinha tempo ruim com ela. Nas funções do Terreiro ela estava sempre ativa; nahora de tratar os bichos, ela estava apostos. De bacia na mão, ela depenava, limpava e tratava os bichos, deixando-os prontos para cozerem. Na hora de descascar a saca de cebola, não tinha olho ardendo e nem choro [risos]. Até camarão, ela pilava no velho e antigo pilão! E, num instante, estava tudo pronto! No Ilê Ibó – casa de adoração aos Ancestrais, era ela quem cuidava de todos os detalhes. Nas épocas de obrigação, ela deixava tudo arrumadinho: do chão às roupas de Iansã, ela organizava tudo.

Era uma raridade vê-la no barracão em dias de festa. Seu neto, Thiago Garcez, Apokan do OpôAfonjá – alto título da casa de Omolu relembra: “Nos dias anteriores às obrigações, ela se dedicava toda. Ia pra cozinha de Oxalá ajudar nos preparativos. Até mesmo nos afazeres mais pesados, ela se fazia presente. À noite, raramente descia para o barracão pra prestigiar a festa. E quando era indagada sobre aquele comportamento, dizia: “a minha obrigação eu já fiz. Tratei os bichos; limpei; cortei cebola; cozinhei; preparei tudo! Agora é a hora do brilho. E eu não preciso ir, não”. Ou seja, para ela, o Suficiente era estar conectada com o que os olhos e corpo dos não iniciados podem ver ou sentir. Tal atitude nos remete à conclusão de que é exatamente em momentos como estes que a magia do Candomblé acontece.

Sempre que eu a via, tomava a bênção e ela – sempre com um sorriso no rosto – me abençoava: “Deus te abençoe, meu filho!”. Em seguida, ela sempre falava uma graça e dava aquela gargalhada gostosa. Também perguntava por meus pais e seguia. No ano de 2008, tia Lourdes partiu para reencontrar com seus Ancestrais e viver sua nova jornada, permanecendo “Suficiente”, essencial e necessária para nós, que aqui ficamos. Acredito que o ser iluminado que ela era em vida se transcende ao se transformar em Ancestral – para que, de lá,ela possa ouvir o nosso rogar.

Salve Oyá Tomi, a Suficiente!

 


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