Adriano Azevedo

Ọdẹ Bọ̀wá: O Caçador está chegando
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Natural de Salvador, Ivalda Maria Rocha foi iniciada por Maria Stella de Azevedo Santos – Mãe Stella de Oxossi, em 13 de maio de 1978. Passou a ser chamada de Ọdẹ Bọ̀wá – o Caçador está chegando. Era nessa expectativa que ficávamos – à espera de Oxossi, pois sua presença emocionava todos no barracão. Muita gente achava que ela era minha parenta, pois era muito parecida fisicamente com tia Stella. Até eu a confundia. Os óculos; o cabelo; o porte físico. Elas eram muito parecidas, e tinham uma relação muito bonita. Ivalda chamava tia Stella de tia – acho que, por isso, as pessoas acreditavam que éramos parentes. A similaridade era tão aparente que tinha dias que, quando estávamos jogando bola na roça e Ivalda aparecia, eu era o primeiro a correr pra me esconder, pois tia Stella não gostava quando me via “nu da cintura pra cima” correndo na roça. Era puxão de orelha, na certa!

Ivalda teve uma infância muito sofrida. Sua mãe, dona Isaura, foi despejada e, sem lugar para dormirem, Ivalda aprendeu o oficio de costureira para reconstruírem tudo do zero, onde anos mais tarde conseguiu passar em um concurso Federal, se tornando da polícia. No entanto, dentro do Terreiro continuou costurando. Era costureira de mão cheia. Quando na roça tinha Iaô – neófito em processo de iniciação, ela era requisitada para confecção do enxoval destes neófitos. Gostava muito de jogar cartas – buraco, onde virava a noite brincando com alguns irmãos. Às vezes eu participava desses encontros. Nunca fui de jogar. Ia mesmo pra tomar a cerveja e comer do tira-gosto que ela preparava com Fernando de Omolu – carne de sertão frita com farofa d’água, dentre outras guloseimas. Era muito engraçado assistir as discussões que aconteciam no desenrolar do jogo, era certo ela e Fernando discutirem: “Pô bicho! Você tá roubando!”, ele dizia. Ela só gargalhava. Mas, quando os papeis se invertiam, aí era a vez de ela começar a falar alto, chegava até a gaguejar, ao ponto de não entender nada do que ela falava. Eu só ria, comia e bebia [risos].

Na foto: Ivalda, Mãe Cantu e Mãe Stella

Ivalda teve alguns filhos pequenos – espécie de discípulo que é orientado pelos Ojubonã – aquele que olha o caminho, que popularmente é chamado de mãe ou pai pequeno. O/a Ojubonã tem o real papel de mãe/pai, pois este deposita todo seu amor, energia e tempo para cuidar do neófito – “filho”. O próprio nome traduz: aquele (a) que orienta; educa e ensina, mostrando o caminho a ser traçado. Do banho ao pôr pra dormir, o/a Ojubonã tem esta função. E assim foi Ivalda com os seus. Ramon de Oxoguian, um de seus filhos pequeno lembra: “Minha mãe Ọdẹ Bọ̀wá era uma das pessoas mais rígidas e, ao mesmo tempo, contrita com os Orixás que eu conheci. Ela exigia bastante da gente, que era filho pequeno dela. Ela cobrava muito que estivéssemos na cozinha; cobrava muito que a gente aprendesse as coisas no Axé. Ela sempre falava que, quando chegasse à hora dela partir, queria deixar-nos preparados. Então, que a gente procurasse aprender tudo, de acordo com a nossa tradição de Axé. Ela era uma pessoa muito boa. Não guardava rancor de ninguém. Era muito cuidadosa. Tinha amor incondicional pela roça e por Mãe Stella – o que era admirável. O amor pelo Orixá não preciso nem falar: ela tinha muita devoção e amor por Oxossi. O Orixá era a vida dela! Estava sempre disposta a dar boas palavras para as pessoas que a procuravam; sempre as orientava, levando sempre à frente o Axé de Xangô.   

Na foto: Ivalda com seus filhos pequenos: Marília de Iansã e Ramon de Oxaguian

Viva para este Caçador que chegou e que aqui ficou!

Okê Arô!!!
 


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