Adriano Azevedo

Nivalda Costa: uma militante negra da costa baiana
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A nossa inesquecível de hoje deixou um enorme legado no cenário cultural da Bahia e do Brasil. Graduada em Ciências Sociais com especialização em Antropologia pela Universidade Federal da Bahia/UFBA, também se especializou em Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia/ UNEB. Foi uma militante aguerrida no movimento negro. Multifacetada, essa inesquecível também foi poetisa; contista; dramaturga; atriz; diretora e coordenadora pedagógica. Estou falando de uma mulher preta e de muita fé nos Orixás: Nivalda Costa, filha de Nair Silva Costa e Manoel Edvaldo Costa.

Nascida em Salvador aos quatro dias do mês de maio de 1952, Nivalda respirava o continente africano e, com isso, pode realizar grandes pesquisas sobre as relações étnico-raciais. Por meio de seus contos, artigos e espetáculos teatrais, ela difundia a cultura negra, tendo sempre como base os ensinamentos do Terreiro, ou seja, uma educação afro-referenciada. No Opô Afonjá, exercia a função de Ajoiê – pessoa preparada para cuidar dos Orixás manifestados. Filha de Oxoguian, Nivalda tinha uma personalidade forte. De fala calma, sempre explicava as coisas pausadamente a quem te ouvia: tinha o dom da retórica. Nesta arte do bem falar, lembro-me de uma passagem muito engraçada. Estávamos reunidos em uma resenha, quando uma barata surgiu do nada. Acredito que ela tivesse pavor do referido inseto, pois quando ela viu a barata, gritou dizendo apontando pra ela: “Elimine-a... Elimine-a!” Agora me digam?! Quem é que fala ELIMINE-A ao ver uma barata? [risos]. A negona tinha classe até pra dar chilique [risos]...

Corajosa, sempre atuou no front das batalhas contra o racismo. Em 1975 produziu um espetáculo teatral chamado “Aprender a nada-r”, onde questionava as imposições do regime militar. O enredo em cena foi censurado pelo Ato Institucional número 5. Já em 1978, nossa Inesquecível produziu a peça “Anatomia das Feras”, cujo tema central foi a Revolta dos Malês. Este espetáculo teve maior repercussão: a estreia foi em um evento do Movimento Negro Unificado/ MNU, em Salvador.

Nivalda teve outras grandes contribuições no âmbito cultural. Foi parceira de grandes personalidades, tais como: meu padrinho de consideração, Jaime Sodré; José Carlos Limeira; Makota Valdina – estes também in memoriam. Nivalda também contribuiu muito com o Ilê Axé Opô Afonjá, deixando seu nome marcado junto a outras e outros Inesquecíveis. 

Como a Vida anda de mãos dadas com a morte, tendo em vista que – inevitavelmente – tudo aquilo que vive, um dia morre, em 09 de julho de 2016, em pleno ciclo das festividades de Xangô, Iku – a morte – interrompeu as atividades biológicas desta grande Liderança Negra, deixando uma enorme lacuna neste cenário que tanto carece de pessoas como Nivalda Costa. No entanto, seu nome segue firme e eternizado nos seus feitos e, por mim, deixado aqui registrado nesta singela homenagem.

Salve Nivalda Costa.     
 


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