Natal é tempo de fraternidade, esperança e paz, tudo interiorizado e compartilhado com amor. Universal e milenar, o espectro natalino independente de religião, e pode – e deve – atingir qualquer indivíduo. Apesar de ganhar contornos mais significativos dentro da fé cristã, nunca se trata de imposição, intolerância e transgressão. Aceitar que o mundo é também povoado por cidadãos tementes a outras crenças, também por outros que preferem seguir à diante sem nenhuma, é essencial e urgente à harmonia da vida em comunhão.
Por isso que é condenável o ataque à sede da Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, na véspera de Natal, que resultou em danos físicos na recepção e no quintal – sem feridos.
Neste episódio isolado, supostamente executado por três pessoas ainda não identificadas, o ódio foi a propulsor de uma intolerante resposta ao recente filme produzido pelo grupo humorístico com uma visão diferente, mundana e descontraída de personagens e passagens bíblicas.
É verdade que ‘A Primeira Tentação de Cristo’, lançado em uma plataforma de streaming há cerca de três semanas, é provocativo em demasia, com elementos indiscutivelmente ‘ultrajantes’ para quem segue os ensinamentos cristãos a ferro e fogo. No entanto, e aqui fica o alerta para o spoiler, o filme mantém a mensagem original intacta: Jesus Cristo vence a tentação de Lúcifer e aceita propagar os ensinamentos de Deus ao mundo.
Apedrejar o diferente, que neste caso foi atacar com coquetel molotov, rebaixa o homem de fé, expõe a falta de virtudes tão fundamentais, como amor ao próximo e ter a mente pura. O ataque com bombas aproxima os supostos infratores à vingança, à ira e, por certo, ao desejo de morte daquele que, nada cristão, é apontado como um oponente.
Críticas pacíficas à produção sarcástica do Porta dos Fundos são aceitáveis, colocar os produtores e atores como inimigos públicos não. A liberdade de expressão, aliás, ainda não é pecado.
