Fungo negro: rara infecção atinge pessoas com baixa imunidade

Especialista esclarece dúvidas acerca da doença e diz que não tem correlação comprovada com a covid

[Fungo negro: rara infecção atinge pessoas com baixa imunidade]

FOTO: Getty Images

Não bastasse o sistema de saúde da Índia entrar em colapso devido ao crescente número de novos casos da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o país teve que lidar com um problema extra: o aumento de casos de Mucormicose entre os infectados. A doença, também conhecida como fungo negro, já acometeu mais de 31 mil pessoas no país asiático e se tornou uma preocupação mundial, principalmente porque tem infectado pacientes no pós-covid. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, a doença já acometeu 49 pessoas. 

Com o objetivo de esclarecer dúvidas acerca da doença, o Farol da Bahia conversou com a bioquímica especialista em micose do Sabin Medicina Diagnóstica, Dra. Maria das Graças Simões. Ela explicou que ainda não é possível afirmar que a Covid-19 tenha uma relação direta com a mucormicose, embora a infecção atinja pessoas com a imunidade comprometida. “Pacientes com imunidade comprometida e internados em UTI estão sujeitos a infecções fúngicas por qualquer tipo de fungo oportunista, que pode se disseminar mais facilmente”, afirmou. 

De acordo com a especialista, a mucormicose é uma infecção oportunista rara. Ela preocupa, entretanto, porque pode provocar a necrose dos tecidos da face, podendo atingir o cérebro, deixar sequelas e levar à morte. Embora não seja uma infecção transmissível, a doença pode ser adquirida pela inalação ou contato com pele e mucosas de esporos que se encontrem no ar de qualquer ambiente, principalmente em lugares de clima quente e úmido. 

A Dra. Maria das Graças disse ainda que o fato dos fungos causadores da mucormicose estarem em qualquer ambiente faz com que dificilmente pacientes que não estão com a imunidade comprometida sejam acometidos pela doença. Segundo ela, a maioria dos casos de fungo negro estão sendo registrados em pessoas que já foram infectadas pela Covid-19 ou que têm diabetes porque o tratamento dessas doenças utiliza doses altas de corticoesteróides. Esses medicamentos, ainda segundo a especialista, deprimem a nossa imunidade e, ao deprimir nossa imunidade, esse fungo que vivia em harmonia com o nosso organismo passa a representar risco e causar doença.

“Esses fungos são considerados patógenos oportunistas, raramente causam doenças em pacientes imunocompetentes. O estabelecimento da infecção requer uma falha das defesas imunológicas naturais. O paciente pós-covid, por exemplo, foi submetido ao uso de altas doses de esteroides, contribuindo para a baixa de imunidade", disse.

Ainda segundo a Dra. Maria das Graças, a infecção causada pela mucormicose apresenta lesões necróticas que têm coloração negra no nariz e palato, o que gera o nome popular “fungo negro”. “Estes sinais, em geral, são seguidos de secreção nasal purulenta, febre e inflamação na região dos olhos. Também podem evoluir para invasão do sistema nervoso central e pulmões”, explica.

Além disso, ela disse que, apesar do nome atribuído a doença, o fungo não é negro. “Fungo negro é  o nome que está sendo dado à mucormicose, doença causada por fungos hialinos pertencentes a ordem Mucorales. Hialino significa transparente, translucido, portanto não é o fungo que é negro e sim as lesões que são negras devido a necrose que produz nos tecidos acometidos”, afirmou. 

Prevenção e tratamento

Segundo o médico responsável pela Microbiologia do Sabin Medicina Diagnóstica, Luiz Carlos Senna Carvalho dos Santos, a mucormicose não é uma doença contagiosa e por isso a melhor forma de preveni-la é manter a imunidade alta, seguindo os parâmetros básicos para a boa saúde, como prática constante de exercícios físicos, alimentação equilibrada e sono regular. 

“Uma pessoa saudável, sem problemas no sistema imunológico, não deve temer o contágio. A  Mucormicose é causada por fungos oportunistas, ou seja, que só ocorrem em indivíduos com baixa imunidade, pois convivem pacificamente com um hospedeiro em situações normais de saúde”, afirma.

Em relação ao tratamento, a Dra. Maria das Graças explica que tratar a mucormicose requer várias abordagens simultâneas. “São necessárias: excisão cirúrgica dos tecidos afetados, terapia antifúngica imediata e correção das patologias de base que predispõem o paciente à doença. Diversos estudos revelam que melhores resultados são obtidos quando o médico opta pela combinação destes procedimentos citados. No entanto, a exérese cirúrgica é recomendada quando se observam apenas lesões localizadas”, conclui.    
 


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