Alvos de insônia, idosos precisam fazer exercício físico diariamente para dormir melhor

Os distúrbios do sono são mais frequentes em idosos do que em jovens, segundo especialistas

[Alvos de insônia, idosos precisam fazer exercício físico diariamente para dormir melhor]

FOTO: Divulgação | Ministério da Saúde

A aposentada Maria Paula da Silva, de 71 anos, tem um hábito que começou a incomodá-la: acorda cerca de três vezes ao longo da noite, todos os dias, e tem dificuldade para voltar a dormir. "Desperto naturalmente e perco o sono por longas horas. Às vezes, eu não consigo mais dormir e vejo o dia amanhecer comigo tentando pegar no sono”, diz. Ela conta que dorme por volta das 20h, mas, duas horas depois, tem a primeira interrupção do sono. “Às 22h eu levanto, vou ao banheiro, bebo água, como um pedaço de bolo e volto a dormir. Às 2h, eu desperto. Por volta das 4h da manhã, acordo de novo e não consigo mais dormir”, conta.

Os distúrbios do sono são mais frequentes em idosos do que em jovens, segundo especialistas. Os problemas com o sono são cruéis a ponto de roubarem a chance de essas pessoas terem um momento para reparar o físico e a mente.

A insônia muitas vezes passa despercebida em exames médicos de rotina e até mesmo é normalizada pelos pacientes que não relatam o problema ao clínico. “Isso reduz a qualidade de vida e agrava outros problemas físicos e emocionais, incluindo a perda de função cognitiva, capacidade de concentração e cansaços frequentes até mesmo para uma simples caminhada, o que diminui a imunidade e desencadeia doenças como resfriados, gripes e pneumonia”, aponta o clínico geral especializado em terceira idade Antônio Oliveira.

Os efeitos da insônia, de acordo com ele, são devastadores quando o problema surge diariamente, seja na dificuldade em adormecer, em continuar dormindo ou em despertar antes da hora.

Causas
Quem sofre de insônia precisa ativar o alerta para as causas que podem estar por trás do problema. Os distúrbios do sono podem, por exemplo, esconder transtornos psiquiátricos, incontinência urinária e até mesmo artrose. Insuficiência cardíaca e refluxo gastroesofágico também estão na lista. A depressão é outro alerta. A angústia por causa de abandonos da idade, medo da morte e perdas das mais diversas também pode ser a justificativa.

Um estudo de 2017 da Universidade de Michigan revelou que 46% dos idosos afirmam ter dificuldade para dormir, sendo que 15% dizem sofrer de insônia em três ou mais noites por semana. Quando perguntados sobre o que consideram a principal razão da dificuldade para dormir, metade afirmou que despertava para idas urgentes ao banheiro na madrugada, o que geralmente ocorre quando há incontinência urinária e hiperplasia prostática benigna. 

A estimativa dos especialistas é que, com o mundo moderno, o problema se agrave. “É provável que haja mais afetados hoje. Os idosos entraram no mundo virtual, daí eles passam muito tempo olhando para telas eletrônicas antes de se deitar - perturbando os ritmos biológicos do organismo”, explica a psicóloga Carla Machado.

O hábito de ficar navegando na internet antes de dormir já foi percebida pelo aposentado José Nery Pacheco, 68. “Eu ficava com o celular na cama, lendo notícias e em redes sociais conversando com os meus filhos e netos. Agora, eu limito até duas horas antes de dormir”, diz.

O álcool também deve ser evitado. Embora dê sonolência, a substância fragmenta o sono e piora a qualidade do sono em estágio REM, importante para consolidação da memória e descanso mental.

O diagnóstico da insônia geralmente vem com um exame especializado: a polissonografia. A pessoa dorme em um laboratório, ligada a instrumentos que registram a respiração, ritmo cardíaco, pressão sanguínea, movimentos corporais e o tempo passado nas diferentes fases do sono.

Movimento

Os especialistas são unânimes ao afirmar que os idosos não podem ficar encarcerados dentro de casa ou reclusos em cômodos como quartos. Quando esse comportamento é frequente, esse público tende a ter sonolência durante o dia, se sente descansado à noite e, no fim das contas, deixa de dormir ou tem sono fragmentado. Apneia e movimento das pernas podem surgir aos poucos. “O idoso precisa interagir, a ir em busca de movimentos. É isso que vai reforçar o ritmo biológico", aponta a psicóloga.

No caso de Maria Paula, citada no começo desta reportagem, ela diz que esses despertares noturnos se intensificaram nos últimos oito anos. "Me sentia cansada do tempo. Me acomodei com a aposentadoria, passei a fazer menos atividades, a ter uma rotina mais monótona”, relata.

Os especialistas dizem que há técnicas para driblar o problema do sono. Limitar os cochilos a menos de 30 minutos por dia, no início da tarde; evitar estimulantes e sedativos; beber chá de camomila, evitar refeições pesadas e líquidos até duas horas antes de deitar; criar condições confortáveis para dormir, como regular a temperatura e a luz, e ir para a cama apenas quando se está com sono.

Soma-se isso ao hábito de fazer atividade física diariamente e, segundo o personal trainer Paulo Barbosa, o problema diminui ou some em pouco tempo. “O idoso que faz atividade física só tem a ganhar: melhora a postura, estimula a musculatura, acelera o metabolismo e o ritmo”, diz. “Para completar, fazer exercício físico diariamente, seja musculação, pilates ou hidroginástica, que são os mais indicados, faz com que eles se sintam cansados, o que levam a dormir melhor e acordar mais dispostos”. 

É o caso de Maria Paula. Desde janeiro deste ano, a aposentada resolveu mudar a rotina de rolar pela cama durante as noites e se matriculou numa academia perto de casa. "Além de fazer amizade, me sinto mais viva, mais potente", relata.


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