O famoso quadro O Grito do Ipiranga, de Pedro Américo, constrói uma narrativa pacífica do processo de independência do Brasil, numa estética romântica e recheada de elementos um tanto inverossímeis daquele ano de 1822. No entanto, a pintura, que deveria estar exposta no Museu do Ipiranga, em São Paulo, há seis anos fechados para uma reforma que deve durar, no mínimo, até 2022 (devido a décadas de negligência à história da nação), exclui processos emancipatórios da então metrópole Portugal que não tiveram um cenário pitoresco e, principalmente, agentes tão pacíficos. 

Neste sentido, o 2 de Julho na Bahia é uma autêntica representação da conquista da liberdade do Brasil, quase dez meses depois da proclamação de dom Pedro I em São Paulo: um episódio com derramamento de sangue devido aos diversos confrontos armados entre uma miserável tropa de brasileiros e soldados portugueses, e que de forma alguma se resume a um único ato – a conquista pela independência baiana teve início ainda em 19 de fevereiro de 1822. 

É contundente também porque foi ocasionada pela insatisfação do povo baiano perante os mandos da Coroa, e os burburinhos da Independência foram a força motriz para romper de vez com Portugal. Mas além dos embates bélicos, é importante pontuar que, cronologicamente, houveram tratativas políticas para se desprender de Portugal, além de articulações de intelectuais locais, com ideias iluministas, para servir de base aos movimentos de libertação do Brasil. 

Peculiar, o 2 de Julho é para a Bahia uma emblemática data com contornos nacionais e locais, afinal, marca também a reconquista de Salvador. Peculiar no passado e também no presente, afinal, esta é, sem dúvida, a festa cívica mais animada do Brasil. A história mostra, e prova, que vitórias são alcançadas com resistência.