"Agir salva vidas", alerta campanha do Setembro Amarelo

Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) promove ações pelo oitavo ano consecutivo

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FOTO: Getty Images

Pelo oitavo ano consecutivo, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) promove, em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a campanha Setembro Amarelo, cujo tema deste ano é "Agir salva vidas". Assuntos relacionados ao suicídio requerem uma atenção especial, principalmente porque é preciso entender para reconhecer os fatores que levam uma pessoa a desistir da vida. 

Atualmente, falar sobre o suicídio ainda desperta tabus e estigmas. Os dados disponíveis, no entanto, mostram a importância da campanha que tem o objetivo de prevenir e reduzir os casos de suicídio e ideação suicida no Brasil. Dados do relatório Suicide Worldwide in 2019, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, revelou que naquele ano mais de 700 mil pessoas morreram por suicídio, o que representa uma a cada 100 mortes. No Brasil, são aproximadamente 13 mil pessoas por ano. 

Trata-se de uma realidade alarmante, com números crescentes, principalmente entre os jovens. Além disso, especialistas chamam atenção para o impacto da pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, na saúde mental. Especialistas apontam que cerca de 98% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias.

No início deste mês, o laboratório da Pfizer divulgou o resultado de uma pesquisa sobre o impacto da pandemia na saúde mental dos jovens. Segundo o levantamento, 39% das pessoas consultadas, entre 18 e 24 anos, disseram que estão com a saúde mental prejudicada nesse período. O psiquiatra Lúcio Botelho explicou que, na maioria dos casos, o suicídio está relacionado a distúrbios mentais e envolve pessoas portadoras de algum sofrimento psíquico. Segundo ele, é importante que as pessoas se atentem à depressão. 

“A depressão tem alta prevalência na população mundial, com taxas que alcançam cerca de 6 a 8% por ano. É uma doença crônica com tendência à recorrência. Isso significa que quem teve um episódio de depressão na vida, pode vir a ter outros”, afirmou. 

Alguns dos sintomas comuns de depressão, segundo o especialista, são tristeza constante; perda do interesse em atividades rotineiras; redução do apetite com perda de peso, ou o contrário, aumento do apetite e ganho de peso; insônia ou necessidade aumentada de dormir; cansaço e fraqueza todo o tempo; sensação de inutilidade, culpa e falta de esperança; irritação constante; dificuldade em concentrar-se, tomar decisões ou lembrar-se das coisas; e ter pensamentos frequentes de morte e suicídio.

Ainda de acordo com Botelho, o fator de risco isolado mais importante para o autoextermínio é a história de tentativa prévia. “A pessoa que já tentou suicídio tem mais chances de tentar novamente. Sabemos ainda que a maioria dos suicidas portavam um transtorno mental não diagnosticado, não tratado ou tratado de maneira inadequada”, disse.

“Dentre esses, os mais comuns são a depressão, o transtorno bipolar, os transtornos de personalidade, transtorno de abuso de substâncias lícitas ou ilícitas e esquizofrenia. Há ainda outros fatores de risco como a desesperança, desespero, desamparo, impulsividade, eventos adversos na infância e fatores sociais como, por exemplo, o desemprego”, completou o psiquiatra. 

Profissionais de saúde

Estudos recentes realizados na Universidade de Calgary, no Canadá, apontam que a pandemia ocasionou o aumento de casos de suícidio entre profissionais de saúde. Entre pessoas da área de saúde, a taxa de suicídio é de três a cinco vezes maior do que na população em geral.

A exaustão pode ser fruto da cobrança inerente à profissão, à rotina de trabalho ou ainda por questões individuais e sociais. E o cenário da pandemia agravou a pressão sobre os médicos, que passaram a ter inúmeras demandas, atendimentos extenuantes, não só entre os que estão na linha de frente no combate à Covid-19, mas também para profissionais de diversas especialidades.

De acordo com o presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM), Dr. César Amorim, é necessário entender que a saúde mental de diversos médicos pode estar comprometida ou ameaçada. Segundo ele, isso pode ocorrer em função de diversos fatores, seja pela rotina dos médicos, a pressão diária da profissão e dos plantões, a responsabilidade pela saúde dos pacientes, além das suas questões pessoais.

“Somado a todos esses fatores, existe a falta de uma rede de apoio a esses profissionais, que seja capaz de auxiliá-los e de identificar possíveis sinais que indicam a tendência suicida, como uma mudança comportamental ou uma tendência a passar a maior parte do tempo isolado. Isso pode indicar que algo não vai bem com a pessoa e que ela, talvez, esteja prestes a atentar contra a própria vida. Neste cenário, o necessário e talvez o passo mais complicado é admitir que você, médico, que cuida da saúde alheia, pode estar com a saúde abalada. A partir daí, o caminho é procurar ajuda profissional”, afirma. 

Cuidar da saúde mental é a melhor estratégia para a prevenção ao suicídio. “Alimentação saudável, sono regular, rotinas bem estruturadas e exercício físico são medidas não farmacológicas que diminuem as chances de depressão. No entanto, quando a pessoa estiver passando por um problema psiquiátrico o recomendado é que se procure ajuda de um profissional. Cuidar da saúde mental é ser gentil consigo mesmo”, disse.

“É preciso se permitir. Adoecer faz parte da condição humana. Não é demérito, não é vergonhoso ter depressão. Não é sinal de fraqueza tomar remédios para se tratar. Precisamos combater o preconceito e os tabus que cercam a saúde mental, assim, conseguiremos diminuir o impacto do suicídio em nossa sociedade”, concluiu o psiquiatra Lúcio Botelho.


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